A história do Futebol de Mesa em Pernambuco

Contam os velhos jogadores de botão de Recife que desde a década de 40 que já se praticava este esporte, o que relato abaixo é a visão de como acompanhei a evolução do Jogo de Botão e sua transformação em Futebol de Mesa em Pernambuco.

Meu pai um torneiro mecânico de ofício, afirma ter começado seu contato com o botonismo apenas por ser um profissional que gostava de trabalhar artesanalmente, até por que nunca jogou botão quando criança, mas começou a tornear os botões que eram levados pelos jogadores da época para ele “ajeitar”.

Esses botões eram de comprados em locais específicos como a Casa de Detenção, o Presídio de Itamaracá como também no “Torno Paulista” que era de um artesão chamado “Seu Nôzinho” da cidade de Paulista que trabalhava com um torno manual de madeira. Em todos estes lugares a matéria prima era o chifre de boi que era queimado e posteriormente prensado transformando-se em placas e daí em botões.

Haviam também alguns jogadores que fabricavam seus próprios botões usando como matéria prima o plástico (galalite) de brinquedos quebrados, às vezes de propósito, que eram derretidos e derramados em forma metálica (existia uma concha que vinha dentro da lata de leite ninho que era muito usada) e também utilizavam a quenga de coco e o vidro de avião chamado de mica.

Meu pai naquele tempo trabalhava como profissional civil na aeronáutica conseguia muita mica e começou também a fabricar, além de tornear os botões que lhe eram levados.

Existiam também na época uns botões feitos de matéria plástica importada, esta matéria vinha como base ou suporte de imagens ou estátuas de santos católicos, os botonistas compravam os “santos” só para aproveitar estas bases.

Haviam também os botões que já viam prontos retirados de capas ou capotes Argentinos, eram botões grandes de dois ou quatro furos e os botões de capas de relógio, tudo isso era usado naquele tempo para praticar este esporte que vemos hoje tão diversificado e profissional.

Naquela época, devido à falta de integração e informação o jogo de botão existia, e era disputado em quase todos os lugares do Estado, porém de maneiras diferentes e com Regras as mais diversificadas possíveis, chegava a se ter uma regra em cada esquina ou em cada casa, se você dizia que jogava botão ao conhecer outro botonista notava que embora o objetivo e a finalidade do jogo fosse às mesmas, as regras e regulamentos nunca eram iguais, começava pela bolinha, em vários lugares se usava a “vassourinha de botão” que era uma flor vegetal em forma de bolinha que se encontrava facilmente em qualquer matagal, outros grupos fazia a bolinha de farinha que frequentemente ou “sabidamente” era molhada para que não rolasse muito.

Aqueles mais sofisticados faziam suas bolinhas de cordão e até de borracha, usada até hoje na APFM- Associação Pernambucana de Futebol de Mesa que ajudei a fundar e fui o primeiro presidente.

O goleiro era o mais comum, normalmente em todos os lugares se usava a caixa de fósforo que se enchia de areia, prego e posteriormente de chumbo derretido para ficar bem pesado.

Em Pernambuco a Regra originalmente tinha um modelo básico comum, era adotado o leva-leva, ou seja, o jogador ia controlando a bolinha até perder, geralmente com um botão só que levava até a área do adversário e chutava a gol.

Esta Regra foi adotada no Estado durante muito tempo e só na década de 60, com a chegada de um grande radialista chamado Ivan Lima, oriundo da Bahia, foi que se começou a adotar em alguns lugares a Regra de Um Toque posteriormente oficializada como uma das três Regras Oficiais Brasileiras hoje existentes.

Ivan Lima foi muito importante para o jogo de botão no Estado, pois como Jornalista ajudou a colocar o esporte na mídia e com participação de outros jogadores da época conseguiu dar início a criação da FPFM que oficializou assim como todo o País as modalidades, Regra de 1 Toque, Regra de 3 Toques e Regra de 12 Toques.

Na verdade estas eram as regras basicamente mais praticadas nos Estados da Bahia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Paraíba (1 Toque), Amazonas, Brasília, Paraná, Rio de Janeiro (3 Toques) e São Paulo (12 Toques).

Curiosamente Pernambuco era um dos Estados que praticava as três modalidades sendo que o “leva-leva” era o 12 toques estilizado e mais uma 4ª regra que até hoje é praticada pelos velhos botonistas do Estado que é a Regra Pernambucana, esta tem muitos detalhes e coisas em comum com a Regra 12 Toques

No final de década de 80, como apaixonado pelo jogo de botão e tendo acompanhado a evolução do esporte, desde a época em meu pai e torneava os craques do time do Galícia, da cantada em prosa Regra Brasileira de Ivan Lima, fiquei entusiasmado ao ver a fundação da Federação Pernambucana de Futebol de Mesa,

Com a criação da FPFM e a fundação da CBFM – Confederação Brasileira de Futebol de Mesa me integrei á entidade onde estou até hoje assumindo o compromisso de lutar pela adesão cada dia maior de botonistas na prática das regras oficiais brasileiras.

Para mim a chegada da FPFM não só  transformou o lazer infantil “jogo de Botão” em Futebol de Mesa, sendo hoje o esporte amador que mais cresce no País, como também foi através dele que tive a oportunidade fazer e manter amigos em todo Brasil.

Espero e tenho o sonho de ter em Pernambuco um grande centro do botonismo, já vejo em meus pensamentos uma grande sede, agregando  jogadores de todos os tipos e com centro de formação e ensinamento de todas as Regras Oficiais e realizando todos os eventos do Futebol de Mesa em um só lugar.

É esperar para ver.

Armandinho

Sobre o autor

Publicitário, webdesigner, filho de Armandinho e também amante do esporte, é o responsável pela idealização, desenvolvimento e manutenção de conteúdo do site. Jogador de botão desde criança, já foi vice-campeão pernambucano e participou de um brasileiro juvenil. Hoje, seu histórico time do Bahia campeão brasileiro de 88 está na estante, mas sua atual seleção da Troça ainda bate umas peladas nas mesas.